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IV.I - Pároco de Balsas

Em Lisboa, uma comissão formada por representantes da Comunidade de Paço de Arcos foi ao encontro de Pe. Ângelo para despedir-se dele. E, como gesto de gratidão, ofereceram-lhe a passagem de Lisboa ao Rio de Janeiro. Era, como ele nos descreve, “a última lembrança que Paço de Arcos queria deixar com ele”. Na verdade não foi, porque, mais tarde, deram a uma rua de um bairro o nome de Pe. Ângelo La Salandra.
O navio Vera Cruz trouxe Pe. Ângelo de Lisboa com destino ao Brasil.
Em 25 de janeiro de 1960, ao amanhecer, ele desembarcava no Rio de Janeiro. E, ao olhar a bela paisagem, defrontou-se com o Cristo Redentor que o acolhia de braços abertos.
Do Rio partiu para Balsas, via Carolina, seguindo o mesmo caminho, com as mesmas dificuldades, dos que o antecederam.

Em Balsas, ao chegar, foi recebido com alegria por Mons. Parodi.
Pe. Fábio [Bertagnolli], o Vigário de Balsas, entrou de férias e viajou para a Itália. Para substituí-lo, Mons. Parodi nomeou Pe. Ângelo.
Aliando experiências adquiridas em Viseu e Paço de Arcos e vivendo o desejo de realizações, foi logo observando, com sensibilidade, as limitações da área de trabalho que se lhe apresentava no momento. O alto índice de analfabetismo, a ausência de escolas, o desconhecimento dos primeiros socorros médicos, o uso de rudimentares  instrumentos agrícolas, entre outras carências, demonstravam a grave situação da área, principalmente no meio rural.
Diante de tal quadro, foi planejado e criado o Centro de Assistência de Educação Rural (CAER), que visava basicamente à melhoria da vida da população sertaneja nos vários níveis de sua realidade.

O CAER consistia em dar formação religiosa e cultural a um certo número de pessoas da zona rural escolhidas dentre as mais disponíveis e com qualidades de liderança. Os escolhidos freqüentariam, em Balsas, durante um mês no ano, aulas sobre matérias do ensino primário, técnicas agrícolas, primeiros socorros, didática e outros ensinamentos necessários ao processo planejado. O aluno concluiria o Curso no final do terceiro ano de freqüência.
Essa experiência foi tão proveitosa que o Curso foi reconhecido pela Secretaria de Educação do Estado, que passou a conceder o diploma de “Mestre leigo” ao aluno que concluísse o Curso.
O CAER ganhou nome e fama e se tornou o centro de formação de professores para as escolas da zona rural de quase toda a Prelazia. [...]
Pe. Ângelo, como Vigário, foi um dos idealizadores e executores do Projeto CAER, ímpar e criativo, que tantos benefícios trouxe às comunidades sertanejas da Prelazia de Balsas. [...]
Ainda como Pároco, Pe. Ângelo realizou diversas outras ações evangelizadoras. Fazia encontros de lazer e orações para os jovens, encenações ao vivo das festas de Natal e Páscoa. Incentivou o terço em família e criou várias Associações: Vicentinos, Apostolado da Oração, Filhas de Maria, Teresianas e outras.
Sua devoção à Virgem Maria e seu hábito de estar, sempre que possível, meditando os mistérios da redenção, através da reza do terço, levou-o a incentivar, entre as famílias, essa simples, mas piedosa oração.

Realizava as desobrigas [missões itinerantes em que os padres visitavam as regiões mais afastadas, o alto sertão, para celebrar casamentos, batizados, ouvir confissões e evangelizar] com ardor e coragem. Ao lombo de burro, ou de canoa, costumava viajar até altas horas da noite para ganhar tempo e poder assim levar a mais pessoas a palavra do Evangelho.
Numa ocasião, chegou já muito tarde da noite a uma fazenda onde o esperavam. O proprietário perguntou-lhe se não tinha medo de que alguma onça o agarrasse. Respondeu-lhe que não, pois levava sempre consigo uma metralhadora com cinco balas grandes e cinqüenta menores. Curioso, o interrogador quis conhecer tão poderosa arma. Pe. Ângelo tirou do bolso o terço e mostrou, dizendo:

“Eis aqui minha poderosa arma”.

Continuou a fazer desobrigas sempre que possível, durante todo o tempo em que esteve em Balsas, costumando levar pessoas capacitadas para o ajudar.
Certa vez, precisando de alguém, lembrou-se de uma professora muito dinâmica e religiosa. Bateu à sua porta, entrou e disse:

Filha, deveis ajudar a salvar almas. Estou a precisar de sua ajuda”.

A professora estava com sua mãe doente, necessitando de seus cuidados. Não houve como escapar. O Padre disse:

Quem não deixar pai, mãe, por causa do Pai, não terá parte com ele”.

E continuou até convencê-la.
Noutra ocasião, essa mesma professora deixou de ir ao baile de formatura da irmã, para acompanhá-lo em mais uma desobriga.
Como fizera em Tróia, quando assistia às crianças abandonadas da periferia, aqui também passou a visitar os pobres dos subúrbios e os doentes, levando-lhes ajuda material e palavras de ânimo e conforto. Esse apostolado era constante em sua vida e será intensificado, como veremos depois, na periferia da grande São Paulo.

Certa vez, quando já era Diretor e docente do Colégio São Pio X, que ele fundou, ganhou dos colegas professores uma calça e uma camisa. Depois de algum tempo, por terem observado que ele ainda não tinha feito uso do presente, um deles quis saber a razão e o interrogou. Disse-lhe, então, o padre que levara o presente a um amigo da periferia da cidade que nada tinha. Quanto a ele, continuou, tinha duas calças e duas camisas, o que lhe era bastante.
A catequese das crianças também mereceu cuidados. Orientava e acompanhava as catequistas, a fim de que fossem pontuais, responsáveis, mostrando-lhes que deveriam preparar cristamente as crianças por meio de uma
linguagem simples e, sobretudo, através de suas atitudes. Por isso não admitia que fossem relapsas ou que dessem mau exemplo. [...]

Após um ano, Pe. Fábio retornou da Itália, reassumindo a administração da Paróquia.

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