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III.III - Paço de Arcos

Em outubro de 1955, deixou Viseu para assumir novos encargos na capital portuguesa.
Para agilizar o trâmite da documentação exigida para o visto de entrada dos missionários em Moçambique, fez-se necessária a criação de uma Casa de Apoio em Lisboa. Para fundá-la, os Combonianos tiveram que aceitar as condições impostas pelo Bispo de Lisboa: aceitar a cura pastoral de uma paróquia dos subúrbios. Condição aceita, foi-lhes concedida a Paróquia de Paço de Arcos, próxima a Lisboa.
Pe. Ângelo seria o novo Pároco da Paróquia e Procurador da Casa de Apoio.
Ao receber a nova Paróquia, o Bispo o avisou:

Deves rezar e sofrer, porque o Pároco, infelizmente, teve que deixá-la por faltas contra o 6.o e 7.o mandamentos”.

O ambiente da paróquia era realmente árido e hostil, impregnado do espírito anticlerical e maçônico. Contava-se que o Pároco de Oeiras, quando foi algumas vezes à Capela de Paço de Arcos, precisou ir quase às escondidas, escoltado pelos guardas, porque era ameaçado pelos maçons. Estes espalharam o boato de que Pe. Ângelo era mulherengo, como o pároco anterior. Ao chegar ao subúrbio, passando por uma rua, ouviu a seguinte saudação: “cuidado com o ladrão”. Ladrão e mulherengo foram as primeiras imagens que fizeram dele em Paço de Arcos.
Embora as dificuldades fossem grandes, nosso vibrante missionário soube vencê-las com a força do Alto e sua sábia e humilde dedicação. Sem se importar com os comentários, de forma firme e honesta, foi, aos poucos, trazendo ao redil as ovelhas assustadas e arredias.
As orações pelo rebanho que o Senhor lhe confiara intensificaram-se noites adentro. Sabe-se que, várias vezes, senhoras que iam assistir à missa de manhã cedo, acharam o padre adormecido, prostrado perante o Tabernáculo. Havia passado ali toda a noite, intercedendo pelo seu povo. Muitas vezes, desanimado, ia aos pés de Jesus derramar a sua dor e receber a restauração, o ânimo e a sabedoria necessários para continuar.

Além da oração, levava uma vida de sacrifícios e de renúncias, tudo oferecendo em favor da missão. [...]

O rigor de vida que impunha a si e aos confrades que por lá passavam explicava-se pela preocupação em recuperar a confiança das pessoas na pessoa do padre e o avivamento da fé. E esses intentos ele realmente conseguiu. [...]
Pe. Ângelo, pelo seu exemplo, com seu modo admirável de viver, terminou por arrastar os paroquianos de Paço de Arcos.
As ações pastorais que desenvolveu junto às crianças, às famílias, aos jovens estudantes e operários promoveram mudanças concretas na vida da comunidade. Foram muitos os que tiveram sua fé renovada, engajando-se nos trabalhos da Paróquia e vivendo cada vez com mais fervor o Evangelho. Formaram-se grupos de catequistas, movimentos de jovens, onde aprendiam a valorizar e a ter vida de oração, vivência dos sacramentos, leitura e meditação da Palavra. Muitos dos jovens evangelizados tornaram-se padres diocesanos.
A pastoral familiar buscou dar às famílias a consciência de seu papel na formação de seus membros e do meio social. Procurou transformar as famílias em pequenas igrejas domésticas, o que fez mudar a feição da Paróquia.
Pe. Ângelo também não se descuidou dos interesses da Procuradoria. Ajudava no delicado trabalho de conseguir os vistos e providenciava aos confrades as passagens de ida e volta a Moçambique, acompanhando pessoalmente os processos junto aos Ministérios.
Iniciou, ainda em Lisboa, a animação missionária.
Mereceram importante destaque também as ações de Pe. Ângelo para  aquisição da casa que os Combonianos haviam comprado em Famalicão, para sediar o Noviciado. Mesmo depois de comprado e pago, o imóvel, por questões de herança, entrou em questão, dificultando o recebimento. Mas “o zelo e o tato” de Pe. Ângelo levaram as autoridades lisbonenses a se posicionarem em favor dos missionários italianos, conforme nos descreve a Crônica do Tempo.
Como podemos ver a cada passo, foram abundantes e florescentes as obras operadas pela missão de Pe. Ângelo.

A experiência também enriqueceu sobremaneira a vida espiritual do padre. Comovido diante de tantos corações transformados e de tantas obras realizadas, agradecia ao Coração de Jesus que sempre permanece fiel às promessas de nunca abandonar aqueles que nele confiam. Vejamos o que ele próprio nos diz:
A experiência de Paço de Arcos me conduziu sempre mais para o futuro de minha vida missionária comboniana, levando-me a confiar e abandonar-me nos braços do Coração de Jesus e no colo da Mãe do Céu para trabalhar para a glória de seu reino no serviço aos irmãos, especialmente os mais necessitados no corpo e no espírito, porque o Coração de Jesus nos ajuda na medida em que confiamos em sua paterna onipotência”. (grifou-se)

A missão comboniana em Portugal também cresceu consideravelmente durante esse tempo. Além do Seminário de Viseu, do Noviciado em Famalicão, surgiu ainda a Escola Técnica de Faleiro, para formar meninos que desejassem tornar-se irmãos missionários.

Avisado de que deveria deixar Paço de Arcos e ir para Moçambique, Pe. Ângelo, profundamente comovido, despediu-se de todos e partiu feliz e pobre como tinha chegado. Feliz por deixar tantos corações transformados e enriquecidos do amor de Deus. Deixava a Paróquia, mas não se desvinculava dos amigos que aí conquistou. Até sua morte manteve correspondência com muitos deles e enviava cartas-circulares temporariamente para os amigos de Portugal.

As cartas que escrevia eram verdadeiros estímulos à vida cristã. Nelas contava, com simplicidade, o seu dia a dia repleto de ações generosas. Elas serviam também para acender a chama da crença no Deus vivo, que não nos abandona, nos corações desmotivados e desanimados.

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