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IV - A Missão Comboniana no Brasil - As primeiras frentes missionárias

Ao deixar Portugal, Pe. Ângelo não viajou, como previsto, para Moçambique. Foi-lhe recomendado ir de férias à Itália, tendo depois, como destino, o Brasil.
A missão comboniana começou a ser implantada concretamente nas terras de Santa Cruz a partir de 1952. Por essa época, já transitava, na Nunciatura Apostólica, no Rio de Janeiro, um processo com vistas à autorização da missão comboniana no Brasil, tendo, inclusive, sido sugerida por Sua Santidade o Papa Pio XII.
Pe. Rino Carlesi, um dos pioneiros da missão em Portugal, juntamente com Pe. Ângelo, foi enviado ao Brasil, em meados de 1951, pelo Superior Geral dos Combonianos, Pe. Antonio Todesco. Um dos objetivos da viagem era obter ajuda financeira junto às colônias portuguesas para a construção do Seminário de Viseu e acompanhar, junto à Nunciatura Apostólica, o andamento do processo de autorização da missão, sondando, inclusive, as reais possibilidades de sua instalação.

Chegando ao Rio de Janeiro, Pe. Rino não mediu esforços para alcançar seus objetivos. Suas idas e vindas à Nunciatura coroaram-se de êxito. Foi oferecida à Congregação uma Paróquia no Espírito Santo, próximo a Vitória. Ao mesmo tempo, o Auditor da Nunciatura adiantou-lhe da ampla possibilidade de obterem também um território pastoral na região de Balsas, no sul do Maranhão. [...]

[...] E em pouco tempo, já estava partindo da Itália o primeiro grupo de padres para assumir a missão: Pe. Diogo Parodi, Pe. Cirillo Gasparetti, Pe. Mário Vian, Pe. Giorgio Cosner e os irmãos Eugenio Franceschi e Sebastião Todesco.
Da Itália foram para Portugal, de onde embarcaram, em novembro de 1951, para o Rio de Janeiro.
Na época, o único meio de acesso do sudeste do país (Rio de Janeiro) ao sul do Maranhão (Carolina) era por via aérea. A FAB (Força Aérea Brasileira) também fazia essa linha que era chamada de linha da integração nacional. Pe. Rino conseguiu, então, passagens para o grupo junto à FAB.
Na primeira viagem, por falta de vagas no avião, vieram Pe. Parodi, Pe. Mário e o Irmão Sebastião, acompanhados por Pe. Rino (os outros vieram depois). Saíram de Carolina para Balsas, na carroceria de um caminhão que fazia a linha Carolina a Balsas, no dia 11 de junho de 1952, enfrentando as precárias condições da estrada com atoleiros de areia, buracos, desvios e um clima quente e úmido tremendamente desagradável. Mas nem isso os impedia de cantar e agradecer a Deus durante toda a viagem de chegada ao tão sonhado campo missionário.
E no dia 12 de junho de 1952, véspera da festa de Santo Antônio, o Padroeiro da cidade, depois de quase dois dias de viagem, num percurso de pouco mais de 170 km, chegaram a Balsas, sendo festivamente recebidos pelo povo e pelas autoridades do lugar. À frente das festividades de recepção estava Pe. Clóvis Vidigal, Vigário de Balsas desde 1939.
Solícito e amável, Pe. Clóvis entregou-lhes a Paróquia e a própria Casa Paroquial para servir-lhes de residência.

Balsas, à época, era uma cidade pequena. Tinha entre 4.000 e 5.000 habitantes. Vivia, a exemplo de toda a região, isolada e distante de qualquer outro centro mais desenvolvido. A Capital, São Luís, estava distante mais de 850 km. Sua base econômica era a agricultura de subsistência e a pecuária extensiva.

O isolamento da área em relação ao restante do Estado, sobretudo a São Luís, era uma característica da região que reportava aos tempos de seu povoamento.
Como sabemos, a colonização do Maranhão se processou a partir de duas frentes fundamentais. Uma, que partiu de São Luís, foi responsável pelo povoamento das terras mais próximas do litoral e foi marcada pela presença ostensiva do Estado português que, diretamente, orientou e conduziu todo o processo de ocupação, tendo, como base econômica, a partir de 1750, a agroexportação.
Essa frente foi também marcada pela participação determinada e ordenada da Igreja. Foram diversas as ordens religiosas que se estabeleceram em São Luís: Mercedários, Carmelitas, Capuchinhos, Franciscanos e Jesuítas. [...] Estes, os Jesuítas, desempenharam papel mais proeminente que os outros na formação cultural maranhense. [...]
A partir, então, da perseguição deflagrada por Pombal contra a Igreja, especialmente contra os Jesuítas, que foram expulsos do Maranhão, em 1759 (terceira expulsão), é que essas ordens vão deixando as terras brasileiras.
Já o devassamento e a ocupação do sul do Maranhão se deveu à expansão da frente pastoril que teve início nos sertões baianos, chegou ao Piauí e entrou no Maranhão, ocupando os sertões de Pastos Bons e se estendendo por todo o sul do Estado. Nessa frente interiorana, foram inexpressivas as participações diretas e orientadas do Estado e da Igreja. Aqui os traços marcantes foram a ousadia, a cobiça e a criatividade dos vaqueiros  e criadores que, à própria custa, foram organizando as famosas expedições que conquistaram as vastas campinas, mas destruíram praticamente quase a totalidade das inúmeras tribos indígenas que aqui existiam, e, assim, plantaram, como chamou o grande historiador Capistrano de Abreu, a “civilização do couro”.
Desta forma, a ação coesa e programada da Igreja, que tão fortemente marcou o povoamento da frente litorânea, não atingiu as terras do sul.

Aqui, até quase o início do século XX, a presença da Igreja apresentou-se de forma dispersa e isolada.

Para as terras do alto sertão vinham apenas as missões itinerantes dos padres que, uma vez por ano, na época não chuvosa, visitavam a área.
Nesses encontros esperados e festejados pelo povo, o padre pregava, orientava, celebrava missas, batizados, casamentos, ouvia confissões, procurando, dentro das condições possíveis, plantar e preservar as sementes da fé cristã.

Parque Nacional da Chapada das  Mesas.  Morro do Chapéu. O Parque abrange os municípios de Estreito, Carolina e Riachão, município vizinho a Balsas. Área de proteção ambiental e rica em diversidade de ambientes, como florestas, chapadas, cachoeiras, cavernas,  formações rochosas. Pe. Ângelo integrou-se a esse ambiente, realizando desobrigas, missões itinerantes em que avançava pelo sertão em lombo de burro ou canoa para levar o Evangelho aos sertanejos.
(Foto cedida por Paulo Marchioretto: www.clinicapadreangelo.com)

Essas visitas, conhecidas como desobrigas, não só alimentaram a espiritualidade sertaneja. Mais que isso, foram verdadeiros elos de inter-
relacionamento social, influindo profundamente na formação cultural do povo. Muito embora a memória dessas desobrigas seja lacunosa e precária, sabe-se, no entanto, pelo que se conhece, o relevante papel que desempenharam até quase nossos dias, na vida social, cultural e religiosa das populações interioranas de todo o sertão brasileiro.
Somente a partir das primeiras décadas do século XX é que se verificou uma atuação mais ordenada da Igreja na região. E isso se deveu, sobretudo, às missões Capuchinha, a partir de 1920, e Comboniana em 1952. [...]

Em 1952, como já vimos, chega a Balsas a missão comboniana, tendo Pe. Rino Carlesi, que mais tarde veio a ser Bispo da Diocese de Balsas, contribuído muito para isso.
Nessa mesma época, os Combonianos instalaram-se também no Espírito Santo, próximo a Vitória, como já mostramos. E, desejosos de fundar uma Casa de Apoio no Centro-Sul – São Paulo ou Rio de Janeiro, optaram de pronto pela terra de Piratininga, que apresentou condições mais favoráveis. Aí, então, assumiram a Paróquia de Caxingui. [...]

Começavam assim os primeiros passos da longa caminhada dos Combonianos no Brasil. As missões de São Paulo, Espírito Santo e Maranhão constituíram-se nos três primeiros pilares básicos sobre os quais se ergueu a ampla construção comboniana do Reino de Deus em terras brasileiras. [...]

No sertão maranhense, em Balsas, em 1953, mais cinco missionários vieram se juntar aos primeiros seis que já tinham chegado em 1952 [...].
Os primeiros anos foram de adaptação ao novo meio, clima, cultura, tudo muito diferente do que deixaram lá de onde saíram. Mas a hospitalidade e a solidariedade do povo sertanejo contribuíram para amenizar as diferenças, favorecendo o enriquecimento da convivência de ambos.

Passada a fase de adaptação, desenvolveram-se obras de promoção humana e de evangelização.
As necessidades básicas apresentavam-se nas áreas da Saúde, Educação e preparação de mão-de-obra. Pe. Diogo, então, Superior eclesiástico do grupo, investiu na construção de obras de infra-estrutura nesses campos, capazes de abrirem espaços para uma evangelização mais rica e mais ampla.
[...] Sua santidade o Papa Pio XII, pela Bula “Quo Modo Sollemne”, de 20 de dezembro de 1954, criou a Prelazia de Santo Antônio de Balsas. E, em 1955, Pe. Diogo Parodi, que se tornou mais tarde o primeiro Bispo de Balsas, anunciou a todos, na igreja, com muita alegria e felicidade, essa boa notícia.

As obras de evangelização acompanhavam o ritmo das construções promocionais. Evangelização e promoção humana marcaram a primeira década da vida comboniana no Maranhão.
No início de 1960, a pequena, pacata e isolada cidade de Balsas já apresentava pequenas mudanças. Eram os sinais de que a obra comboniana se enraizava para dar frutos de mudanças no panorama sociocultural e religioso da região.

Até o final de 1960, já haviam sido fundadas escolas de aulas práticas e ofícios. Fundou-se também a Escola Primária, mais tarde Escola Média e Magistério que foi entregue às Irmãs Capuchinhas que chegaram a Balsas em 1954.
As oficinas com aulas práticas de olaria, carpintaria, tipografia, serraria, mecânica estavam sob a responsabilidade dos abnegados Irmãos. Nessas oficinas foram construídos os materiais fundamentais para a edificação de Escolas, Capelas, Salões e, mais tarde, o Hospital, o Seminário e a Catedral.

É nesse ambiente de sensíveis modificações e transformações que veio se verificar a chegada, em 1960, de Pe. Ângelo. Sua atuação nessas terras do sertão que aprendeu a amar inseriu-se muito bem nesse contexto de florescentes realizações combonianas com vistas à evangelização e à promoção humana. É ele mesmo quem nos conta que ficou verdadeiramente contagiado por esse clima de obras promocionais, visando à realização integral do homem do sertão do Maranhão.

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