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IV.II - Seminário e Colégio São Pio X [Balsas, Maranhão]

Quando Mons. Parodi esteve em Roma, em visita “ad limina” ao Papa, narrou-lhe as obras da Missão Comboniana em Balsas sob sua administração. O Sumo Pontífice, ouvindo-o atentamente, perguntou-lhe pelo Seminário, se já o havia fundado. À resposta negativa de Mons. Parodi, sugeriu o Papa a fundação de obra tão importante, dando a ela antecipadamente suas bênçãos.
Chegando a Balsas, Mons. Parodi cuidou de concretizar a sugestão do Papa, indicando  Pe. Ângelo para a Reitoria do Seminário.
Mais uma vez, como outrora já fizera em Viseu e  em Lisboa, exercitou as atividades de animador missionário. Percorreu, de forma incansável, todas as Paróquias da Prelazia, à cata de vocações sacerdotais e trouxe aspirantes para o Seminário.
O Seminário abriu suas portas em 25 de março de 1962, dedicado a São Pio X, contando com 12 seminaristas.

Vice-reitor do Seminário Episcopal de Tróia, logo que foi ordenado, Pe. Ângelo possuía carismas para cuidar da formação dos futuros padres. Pelo estudo, lazer, oração, trabalho, conferências comunitárias e colóquios individuais, ele levava os aspirantes ao crescimento espiritual e ao conhecimento de sua verdadeira vocação. Seu exemplo de grandeza de alma e de amor paternal marcou aqueles jovens entregues ao seu cuidado. O registro a seguir confirma o que afirmamos.
Certa ocasião levava os seminaristas a pé a um passeio numa fazendinha muito perto de Balsas. Sebastião [Bandeira], hoje padre, na época com  onze anos de idade, integrava o grupo. Logo que chegaram à fazenda, Sebastião foi acometido de uma febre alta. Preocupado, Pe. Ângelo tomou-o nos braços e o carregou nos ombros por quase todo o trajeto de volta, para providenciar socorro médico. [Pe. Sebastião Bandeira, mais tarde foi sagrado bispo e, atualmente, encontra-se na Arquidiocese de Manaus, Amazonas.]
Gestos como esses lembram-nos a imagem do Bom Pastor, carregando a ovelha ferida. Com tais atitudes, o Padre Reitor levava os seminaristas a experimentarem o amor vivo de Deus, força capaz de mover corações e construir um mundo novo.
Pe. Ângelo era convincente quando queria levar alguém a ajudar o irmão. E, quando esse irmão era um seminarista, ou um seu familiar, seus argumentos eram invencíveis.
Assim aconteceu com a irmã de um seminarista que morava no interior e queria residir em Balsas para continuar seus estudos. Por ser de família humilde, ela não tinha como arcar com as despesas de moradia em Balsas. Com todo jeito e muita fé, conseguiu o padre que uma professora, em meio às dificuldades que vivia, recebesse, em sua casa, a irmã do seminarista, que lá morou por longos sete anos, até concluir seus estudos. Hoje ela é uma competente funcionária do Banco do Brasil, casada, tem três filhos e reside em uma capital brasileira. [...]
A necessidade de maior número de eficientes escolas crescia em toda a Prelazia. Balsas ia se tornando, a cada dia, o pólo educacional de toda a região.

Da Escola Normal de Balsas saíam os professores que se espalhavam por toda a Prelazia. Em função disso, crescia mais ainda a demanda por escolas.

Em face a essa situação e dada a ampla estrutura física do Seminário, concordaram Mons. Parodi, Pe. Ângelo e os demais padres em fundar o Colégio São Pio X, cuja direção coube a ele, Pe. Ângelo. [...]
Quando começou, era aberto apenas para meninos. Mas, como era de se esperar, por insistência dos pais, passou a receber também meninas. E Pe. Ângelo opinou a favor dessa mudança, argumentando que da presença de meninos e meninas na mesma classe adviriam vantagens que os levariam a melhor conviverem e melhor se respeitarem mutuamente. [...]
O Colégio São Pio X criou fama em toda a região pela sua eficiência e eficácia no ensino. Primava pela organização, pela disciplina e pela alta qualidade do ensino. Tal fato era confirmado pelo elevado índice de aprovação de seus ex-alunos nos vestibulares realizados por conceituadas Universidades nos centros mais adiantados do país. Isso exigia do Diretor muito dinamismo, capacidade, força de vontade e oração. Dos alunos exigia-se obediência, disciplina e muito estudo. Dos professores e funcionários ele cobrava competência e responsabilidade. [...]

Pe. Ângelo era realmente exigente. Não admitia frouxidão no cumprimento do dever. Defendia a liberdade, mas com responsabilidade. Sua doação pela missão exigia-lhe sacrifícios os quais abraçava com verdadeiro espírito de renúncia e zelo. Vejamos um fato que lhe aconteceu:
Sua mãe, muito doente, perto da morte, manifestou grande desejo de rever o filho Ângelo antes de morrer. Era final de ano, período de muitos encargos no Colégio e no Seminário, tornando  sua presença necessária. Diante dessa obrigação, decidiu não viajar, apesar da insistência dos amigos que queriam vê-lo partir para ir abraçar sua mãezinha que agonizava. Veria sua mãe lá no céu, explicou aos amigos o humilde sacerdote e educador. [...]
Ao lado do eficiente ensino, ele procurava dar aos alunos sólida formação moral e religiosa. Seu afã de conquistar almas para Deus e em formar jovens com visão crítica do mundo, responsáveis pela construção de uma sociedade mais justa e fraterna, levaram-no a um trabalho contínuo e incansável. As aulas de Moral e Civismo por ele ministradas constituíam-se em verdadeiros encontros, onde temas polêmicos ligados ao sexo, ao aborto, às drogas e a questões sociais, como reforma agrária, corrupção, justiça social e outros, eram discutidos e refletidos à luz do Evangelho.
Seu método era o diálogo, levando os alunos a repensarem seus hábitos e a mudar de vida. Formar cristãmente a juventude era, como afirmava, sua “santa paixão”. E o foi de verdade, tal o zelo, a dedicação e o comprometimento contidos no seu trabalho, no qual depositou tanto amor. Suas palavras, atos e hábitos refletiam fundo no ser dos educandos, resultando no fecundo trabalho que desenvolveu, contribuindo verdadeiramente para modificar o perfil educacional e cultural de todo o sul do Maranhão. [...]
Como Diretor, na busca de melhores condições para o ensino no Colégio, não se intimidou em reivindicar, mesmo junto às mais altas autoridades, recursos, visando à melhoria do ensino e da educação em Balsas. Foram vários os encontros que manteve com Secretários de Estado, Governador e Ministro da Educação. Não temos conhecimento de recusas por parte das pessoas a quem solicitava ajuda.

Todos que, nessa época, conviveram com Pe. Ângelo reconhecem sua coragem e sua fibra de homem lutador. Seus confrades costumavam chamá-lo de trator, guerrilheiro de Deus, tais eram a disposição, a força, o ânimo no desempenho dos trabalhos. Era, na verdade, um homem portador de muitas qualidades, todas colocadas a serviço da causa que abraçara. E, acima de tudo, um homem de muita espiritualidade que, sempre que podia, prostrava-se em oração diante do Senhor.
A educação com base nos princípios cristãos era para ele um instrumento fundamental de mudança. Só ela era capaz de transformar as estruturas injustas, corruptas, destruidoras da sociedade, frutos do pecado, numa organização social solidária e fraterna. Por isso investiu tanto na formação ética dos jovens. A educação cristã, como gostava de expressar-se “é o antivírus que combate o vírus da ignorância, da corrupção, do crime e da injustiça”. Diante disso, procurará, durante toda sua vida, transmitir para jovens e adultos, através de aulas e outros meios, a doutrina moral e social da Igreja. [...]
Sua visão de vida cristã era firme e sólida, fundada nos mais rígidos princípios cristãos e nos carismas específicos da congregação comboniana, em especial o da promoção humana e da oração pessoal intensa, até transformar a vida e as atividades em oração. Seu conceito de ser humano fundamentava-se no preceito da dignidade humana revelado pela Igreja. Abaixo da raça, credo, posição social estava a pessoa em sua dignidade. Em função disso, respeitava e amava a todos sem distinção.
Observamos que ele consumiu toda sua vida nos ideais em que acreditava, procurando possibilitar a todos, especialmente os mais carentes, vida plena em todas as dimensões do ser humano. Hoje, no Seminário e Colégio São Pio X, visando ao melhoramento educacional do meio. Amanhã, junto aos posseiros, defendendo seus direitos contra a injustiça dos latifundiários, na região fronteiriça do Maranhão com o Pará e, muito mais tarde, evangelizando e assistindo aos pobres, doentes, moribundos, viciados, encarcerados, nas periferias de São Paulo.
Sem dúvida, podemos afirmar, pois, que sua missão em Balsas marcou profundamente a formação sociocultural do povo sul-maranhense que recebeu forte influência da ação pedagógica do vibrante e sensível missionário de Biccari. Pedagogia essa que, como procuramos mostrar, concebia o desenvolvimento do homem e de todos os homens, em todas as suas dimensões. [...]

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